A comunidade escolar constrói o futuro

Vandré Brilhante, economista 
e Diretor-Presidente do CIEDS.

O Brasil tem cerca de 15 milhões de pobres – pessoas com ganho mensal inferior a R$140,00.   Dentre eles, 12,4 milhões são indigentes – ganho mensal inferior a R$ 70,00.  Cerca de 50% das mulheres deste universo são consideradas inativas economicamente.

Considerando que há 10 anos tínhamos cerca de 30 milhões de pobres, o avanço na diminuição da pobreza foi espetacular.  Os fatores que contribuíram para isso foram a crescimento constante da economia, o Programa Bolsa Família, o aumento real do salário mínimo, mas, sem dúvida, a geração de 14 milhões de novos empregos foi o carro chefe  que mais contribui para a diminuição do número de pessoas na linha da pobreza.
   

A presidente eleita Dilma Rousseff coloca a erradicação da pobreza no Brasil em seu programa de governo.  Será possível?  A manter o ritmo de crescimento econômico e acima de tudo, a entender que o grande desafio é criar empregos, como o principal motor para a redução da pobreza, sim, é possível.

Todavia, o emprego e a ocupação de postos de trabalho estão diretamente relacionados a expansão e melhoria da educação de crianças, jovens e mulheres.  Cabe ao governo federal, estadual e municipal orientar as suas atuações para a educação em todos os seus níveis, especialmente para crianças e jovens pobres de 0 a 18 anos.

A melhoria da educação exige mais do que o aumento da oferta de vagas, a melhoria física de creches e escolas.  Acima de tudo, a educação tem que ser vista como um processo participativo e comunitário, que envolve a co-responsabilidade de professores e pais de alunos, alunos e líderes comunitários, governos e sociedade civil organizada.

O Projeto Bairro Educador, da Secretaria de Educação do município do Rio de Janeiro, é um exemplo de uma iniciativa vital para o aumento da escolaridade e da participação de toda a comunidade no processo de educação.


Com o apoio da Ong Escola Aprendiz, o CIEDS desenvolve o projeto Bairro Educador, que atua junto a 200 escolas e creches municipais, situadas nas áreas com maiores índices de conflitos armados. 

O programa dinamiza o processo educativo que integra planos de aulas, aumento do rendimento escolar, uso do bairro como espaço ampliado das escolas, atividades culturais e esportivas e capacitação de professores e diretores num processo único e contínuo de melhoria da educação devidamente aferido e de qualidade.  São ações de mobilização de recursos – humanos e materiais, existentes na própria comunidade antes não direcionadas de forma concertada para a escola e o desenvolvimento da comunidade.

Os resultados aparecem quase que de imediato.  Diretoras de escolas municipais desmotivadas com promessas e projetos passageiros hoje se reúnem com parceiros locais, mobilizam professores e alunos em planos de aulas divertidos e eficazes.  Atores locais assumiram a escola como um bem da comunidade, uma instituição que promove o desenvolvimento educacional, cultural, social e humano de seus filhos.  A comunidade pode ver na escola o motor de mudanças que ajuda a construir um futuro melhor para todos.  Mais educação para os filhos, mais chances de um futuro melhor. 

O desenvolvimento, jargão tão usado por economistas e políticos, tem aqui uma cara real e atual.  Nas escolas e bairros onde o Projeto está e onde há ações de segurança, como as Unidades de Polícia Pacificadoras, já mostram resultados concretos.  A escola e a educação ganham destaque na garantia da paz e da melhoria do desenvolvimento econômico.  O projeto é um exemplo concreto de uma política pública acertada e consertada entre vários atores sociais.  Aposta num futuro melhor para milhares de crianças e adolescentes que num futuro breve serão a imagem econômica e social de nossa cidade e de suas comunidades.  A segurança e o bem estar de todos só é garantido se apostarmos em um futuro para essas  crianças comprometido com justiça social, melhor acesso de todos às politicas publicas e maiores chances de ascensão sócio econômica através da educação.

Acreditamos no potencial de cada um dos brasileiros e esperamos em 2011 contribuir mais ainda para a construção de um país com mais oportunidades igualitárias para todos.  A educação e o trabalho, juntos, podem mudar nossa realidade e construir o Brasil do futuro que verdadeiramente queremos.